terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Direito

E porque este blog fala de sonhos, também o Direito era um sonho... antes de ter entrado no curso. O sonho da Justiça, dos valores. E foi então que quando me encontrei nesta área, acordei. Apercebi-me que é em Direito que se conhecem as maiores injustiças, desigualdades, atrocidades e... práticas pouco ortodoxas. Para se sobreviver é preciso ser submisso. Calar quando nos pisam e sorrir levemente no fim, como que pedindo que o façam outra vez. Primeiro castram-nos a razão, o espiríto crítico, a vontade de mudar algo, impingem-nos a ideia de que o status quo é para ser mantido, ensinam-nos a ler e reproduzir e recomendam-nos que para se ser digno de opinar, só depois de se ter lido meia biblioteca romana e medieva. Somos vermes e eles senhores da Lex, seres eminentemente superiores, a quem devemos ajoelhar sempre, nunca ousar responder, nem olhar de frente, é o temor reverencial, com tiques autocráticos. Ficam-se pela metodologia vazia das fórmulas jurídicas (de prefência com algumas palavras em latim à mistura para tornar a coisa mais pomposa) e entram em esquemas totalmente desligados da realidade, uma abstracção pseudo-intelectual. Enfim, e como o Direito é uma realidade cultural, más notícias: a Justiça vai (demasiado) mal neste rectângulo (não que isto seja novidade para alguém). Não consigo deixar de pensar, cada dia que entro na Faculdade, como faz falta um banho de humildade a tantos "senhores doutores" que se endeusam a si próprios, sem saberem nada da realidade. Talvez um dia se apercebam que, afinal, não passam de seres humanos, apenas e tão-só seres humanos.

É o que temos, haja coragem e força para continuar a sonhar, que é como quem diz, lutar...

5 comentários:

  1. como é obvio não podia estar mais de acordo...
    nesta área é sobreviver a torto ou a DIREITO...

    e mais não digo.

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  2. como sempre, directa ao ponto. :)
    já tinha saudades "de te ler".

    beijinho
    xofi :)

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  3. Adorei o texto!
    Estou num curso completamente alheio, com o seu próprio mundinho e sem se preocupar grandemente (para já) com esta área,
    mas só da convivência com algumas poucas pessoas, como tu, e umas poucas entradas lá na faculdade,
    dá mesmo para confirmar e concordar com essa realidade!

    .. Impressionante!

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  4. Nem tinha lido este. Na mouche.

    O problema é que a maioria das pessoas envereda por aí, ou por escassez de alternativas (é, em teoria, o que tem mais reputação e mais saída), ou porque têm uma visão mitificada da coisa.

    Neste último caso, porque têm uma noção idealista da luta pela “Justiça”, que se esboroa quando se apercebem de que o Direito lida, essencialmente, com questões adjectivas e não questões substantivas (meios de produção de prova, prazos, cláusulas, etc.); e porque têm um noção também idealista do advogado enquanto salvaguarda dos pobres & oprimidos (sobretudo os que aspiram ao direito penal), que igualmente se esboroa quando se apercebem de que o advogado lida, essencialmente, com questiúnculas sobre a “letra da lei” - e não com grandes dissertações morais sobre a matéria de facto.

    Bem, sei lá: isto digo eu, que tenho pai advogado e já pertenci à tribo ;-)

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  5. Eu não diria melhor. Sabes bem o que vivemos dentro daquela "casa"!

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